E QUANDO A DOR CHEGA?

Creio que um dos maiores desafios que nós homens enfrentamos é assegurar que somos fortes, enfrentamos cada situação com coragem e que somos capazes de encarar os desafios diários de forma rápida, segura e definitiva.

Somos criados, silenciosa ou abertamente, a sermos fortes e corajosos. Somos chamados o tempo todo a “sermos homens”!

Certamente em várias situações, inclusive as mais difíceis e constrangedoras, você deve ter ouvido frases do tipo: 

Seja forte! 

Seja homem!

Engole esse choro! 

Homem não chora!

E o resultado é que, nessas situações, somos “forçados” a agir como se soubéssemos o que fazer, mesmo não sabendo; ou então ser mais forte que o outro, mesmo não sendo e por diversas vezes “apanhando” para provar que somos; diante de ataques que machucam, disfarçar e dizer que “nem doeu”; ou ainda quando a dor é forte e a insegurança diante de incertezas nos confunde, somos fortes e não somos fracos. 

Somos levados a negar, suprimir ou reprimir nossas emoções, temores e fraquezas. Temos que ser fortes! E isso o tempo todo.

E como se isso ainda não bastasse, constantemente sou desafiado a viver com os alertas da Palavra de Deus, onde algo em torno de 365 vezes me diz que não devo temer, que devo ser forte, que devo ser corajoso. Enfim, tudo indica que, como homem de Deus, não posso demonstrar fraqueza alguma, pois isso talvez represente minha incredulidade naquilo que Deus espera de mim: ser forte e corajoso!

Ah! Talvez você se pergunte se realmente não é isso o que a Palavra ensina. E, cá pra nós, tenho que concordar que é isso o que Josué 1:6, por exemplo, nos exorta.

Mas, e quando surgem situações cotidianas para as quais não estamos prevenidos, ou muito menos preparados para enfrentar, como por exemplo:

Uma demissão inesperada do emprego, justamente quando você acaba de assumir desafios financeiros;

Aquele negócio que você vinha trabalhando há muito tempo, é “perdido”, porque um concorrente seu utiliza de artimanhas ilegais ou de informações obtidas junto a conhecidos seus, passando você pra trás e comprometendo todos os seus potenciais ganhos e sustento;

Você é alvo de calúnias ou articulações “políticas” dentro da empresa, prejudicando sua “imagem” e carreira, permitindo que outros, de maneira injusta e “suja”, conquistem posições que, por mérito e competência, deveriam ser suas;

Ou quando surge inesperadamente a notícia de enfermidade grave em sua família ou mesmo com você;

Ou a perda repentina de algum familiar ou amigo chegado;

Você descobre que alguém que você tem como exemplo, vive uma dupla realidade. Seus valores “desmoronam” e você se pergunta se realmente vale a pena viver tais valores ou princípios;

E que tal quando aquele pecado que você conseguiu esconder tão bem por anos a fio, subitamente é descoberto e toda sua reputação cai por terra, comprometendo seu caráter diante daqueles a quem você mais ama?

Enfim, há uma infinidade de situações com as quais nos deparamos diariamente e para as quais nunca estaremos preparados para enfrentar. E respostas simplistas e “espirituais” como “seja forte”, “confie no Senhor”, soam mais como o “seja homem”, “engole esse choro”, “homem não chora” que ouvimos ao longo de nossa vida, tentando calar nossa dor interior.

Convenhamos, muitas vezes a dor chega sobre nós, e nosso desejo sincero é de chorar, de gemer, de dizer que está doendo e que não sabemos o que fazer ou como enfrentar. Não sabemos como ser fortes e nem corajosos nesses momentos.

E isso não quer dizer que nossa fé e confiança no Senhor tenham desaparecido. Apenas é um momento onde nossas emoções e fraquezas afloram. Elas, que são diariamente sufocadas pela “exigência” de sermos fortes, vem à tona e tememos expressá-las de maneira honesta. Afinal “homem não chora”. E “homem de Deus”, nada teme.

Quando lembro que a Bíblia revela que os verdadeiros homens de Deus nunca foram fortes o tempo todo, percebo que a ideia de firmeza e coragem que acreditamos é falsa. Não temos a “obrigação” de sermos “infalíveis” o tempo todo. Não precisamos ter medo de expressar nossas dores e fraquezas. E, para esclarecer essa verdade, que tal relembrar alguns episódios na vida de Jesus, enquanto vivia “limitado” à condição de homem:

Compartilhou Sua “frustração” ao afirmar que a seara era grande e poucos os trabalhadores;

Irou-se profundamente ao ver a forma como desonravam o templo, transformando-o num grande balcão de negócios e não o lugar de adoração;

Chorou ao saber da morte de Seu grande amigo;

Em momento de grande agonia, pediu o apoio em orações aos Seus discípulos, que não o fizeram;

Ao saber que Seu fim se aproximava, expressou com toda franqueza para Deus que estava em grande luta interior e que não Se sentia pronto para tal.

Jesus não teve medo ou vergonha de expressar o que passava em Seu interior.

Ele nunca foi o “homem forte” que muitas vezes idealizamos: tudo sabe, tudo enfrenta e nada pode abalar. Que falsa ideia de “fortaleza e coragem”.

Refletindo nisso, creio que o maior desafio é entender que ser verdadeiramente “forte e corajoso” é reconhecer que sou fraco, limitado e tenho tanto a aprender, pois sem o Senhor, nada posso fazer. 

Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (II Co 12:10c).