FECHANDO OS MARES

Em Êxodo capítulo 14, temos a conhecida história da travessia do Mar Vermelho pelo povo de Israel. E gostaria de destacar algumas ideias a partir desse texto.

Ao perceber que estão encurralados pelo exército de faraó que se aproxima e o mar diante deles, o povo começa a murmurar e desejar retornar à sua antiga condição de escravos. Como é possível desejar retornar a situações de aprisionamento e escravidão diante dos obstáculos que surgem à frente? Quantas vezes pensamos em desistir de nossa caminhada diante dos desafios que surgem dia a dia? 

E surge aqui a primeira lição: “Diga ao povo que marche” (v.15). A ordem é clara: não se atemorize nem deseje retornar. Siga adiante.

Mas como seguir, se o “mar” diante de nós parece ser instransponível? Lembre-se das promessas de Deus: “ergue o teu bordão, estende a tua mão e o mar se abrirá” (v.16). E aqui temos nova lição: as “ferramentas” que Deus usará para “abrir o mar”, estão nas nossas mãos e devemos lançar mão delas, para que vejamos o sobrenatural do Senhor acontecer. Peça que Ele mostre quais são os teus “bordões”.

Mas a “abertura” do mar pode trazer um novo desafio: o “afastar das águas” não significa que a “terra estará enxuta”. Mas Deus disse que estaria enxuta! E, para tal, certamente algum tempo será necessário. Nossa ansiedade pode nos enganar e fazer descrer que desistamos ou, pior ainda, nos afobarmos e atolarmos nossos pés no lodo do terreno que ainda não está pronto. Por isso Deus “fez soprar um forte vento por toda aquela noite” (v.21), deixando a terra seca e possível de ser atravessada por entre os “muros de águas”.

Que lição especial: entender que muitas vezes precisamos tomar as ações iniciais, mas ao mesmo tempo aguardar o tempo propício para seguir adiante na caminhada rumo às conquistas que Deus tem pra nós. Estar prontos para marchar, mas só fazê-lo sob o comando do Senhor dos Exércitos.

Porém surge agora o desafio que, para mim, tem sido o mais difícil de discernir e de colocar em prática os meios para superá-lo: e quando o exército que me persegue começa a vir ao meu encalço, enquanto ainda estou na minha travessia?

Muitas vezes nossa caminhada na vida cristã parece começar tão bem. Mudanças acontecem de forma mais rápida e perceptível. Nosso ânimo por aprender coisas novas parece ser muito maior e até mesmo nossa coragem em compartilharmos o que descobrimos aflora a todo instante.

Mas aos poucos percebemos que as coisas começam a diminuir seu ritmo. As dificuldades surgem a cada instante, afrontas de amigos e parentes, perseguições no trabalho, escola, negócios que não se concretizam porque agora decidimos fazer as coisas certas. E, sem que percebamos, começamos a acalentar a ideia de que “as coisas antes eram mais fáceis” e desejamos “retornar ao Egito”, ainda que lá tenhamos sido escravos e privados de tudo o que Deus um dia planejou para nós.

Quantas vezes não somos tentados a olhar para trás e, diante do “exército de faraó”, nos rendermos e desejar voltar à nossa antiga vidinha medíocre e miserável de escravos? Parece que viver uma vida diária de relacionamento com Deus é muito mais difícil do que sermos escravos e sem direitos em “terra estranha” sob o poderio de faraó.

E é aqui que Deus dá uma nova ordem à Moisés e, com ela, uma lição preciosa a ser relembrada por nós cada dia: “estende as tuas mãos sobre as águas, para que se fechem” (v.26).

Mais do que impedir que o exército de faraó avançasse sobre eles, o fechar do mar significaria que o povo não poderia mais retroceder. O Egito havia ficado para trás. E com ele toda a vida anteriormente vivida deveria ser deixada para trás também. Não havia mais espaço para “viver o passado”. Agora o desafio era viver o presente, confiando no futuro que Deus lhes havia prometido.

Quando reflito nessa lição, olho para minha própria história e percebo que tudo aquilo que vivi, tenham sido experiências boas ou ruins, cada uma delas devem permanecer no passado. Ainda que me sirvam de preciosas lições para o presente, elas estão lá e não há como torná-las “vivas” no presente. Posso sim refletir sobre elas, mas não as reviver. Pois os tempos hoje, são outros. Preciso prosseguir. Trazendo toda a bagagem da experiência, sim, mas não o “saudosismo” dos tempos de outrora.

Quantas vezes nos apegamos ao passado e, à semelhança do povo de Israel que continuamente desejava voltar ao Egito, perdemos oportunidades de provar novas coisas e descobrir que Deus não se limita à nossa forma de pensar e agir. Nosso Deus é criativo e deseja a cada dia nos ensinar coisas novas.

Afinal “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (II Co 5:17).

Quando as dificuldades do presente forem grandes e “bater” aquela saudade do passado, lembre-se do exemplo de Paulo: “esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp. 3: 13,14).

Em suma: ergue as tuas mãos e feche os mares atrás de ti e siga adiante!