Outro dia desses estava fazendo minha leitura bíblica, no capítulo 3 da primeira carta aos Coríntios e percebi algo interessante. Após Paulo chamar a atenção dos irmãos sobre as divisões que estavam ocorrendo naquela igreja, o que ainda segue sendo uma triste realidade em nossos dias, uma advertência muito séria lhes (nos) é dada: o único e verdadeiro fundamento, ou alicerce, é Jesus Cristo.
Creio que em relação a isso não temos dúvidas e provavelmente declaramos isso a plenos pulmões para qualquer um que vier a questionar nossa fé ou atos. Mas há um detalhe importante, que está associado a essa afirmação, ao qual talvez não nos atentamos. Ao dizer que ele, Paulo, havia lançado “o alicerce como um construtor competente”, ele afirma que “agora outros estão construindo sobre ele”(I Co 3:10).
A primeira lição que esse texto me ensina é que eu não estou pronto, mas que ainda estou em obras! Isso é facilmente comprovado quando vemos o mesmo Paulo dizendo aos filipenses que “aquele que começou a boa obra em vocês irá completá-la” (Fp 1:6). Preciso constantemente relembrar a mim mesmo que, por mais que eu julgue saber ou ter feito muitas coisas, ainda estou em obras e sempre há algo mais que Deus que fazer em minha vida.
Parece ser tão óbvio, mas na prática nem sempre aceitamos as diversas maneiras pelas quais Deus tenta “trabalhar” em nossas vidas em nosso tempo pessoal com Ele, ou mesmo por meio de provações, circunstâncias cotidianas, pessoas. Nem sempre aceitamos o fato de que ainda estamos em obras, e, portanto, Ele ainda tem muito a fazer em nossas vidas.
Mas a segunda lição me parece ser um pouco mais sutil e difícil de ser percebida e colocada em prática. A sequência do verso 10 diz: “mas quem constrói sobre o alicerce precisa ter muito cuidado”.
Embora a ênfase de Paulo seja sobre o “manter o alicerce que já foi posto – Jesus Cristo”(v. 11), o que me chama a atenção e me desafia é a conexão entre a afirmação de que “outros estão construindo sobre o alicerce” e que quem estiver nessa condição/função “precisa ter muito cuidado” ao fazê-lo. Parece-me que uma das grandes dificuldades que enfrentamos hoje, enquanto líderes espirituais, ou “simples testemunhas de Jesus”, é que temos sim a convicção de que fomos alicerçados em Jesus. Nossa condição de pecadores, carentes da graça e do perdão de Deus por meio do sacrifício de Jesus, é a clara fundamentação da nossa fé. Mas o que é que está sendo efetivamente construído em nós ou naqueles que estão sob nossa liderança ou responsabilidade?
Muitas vezes me parece que são os interesses pessoais, preferências, posições, reconhecimento, “tranquilidade” em manter uma vida de religiosidade diante dos homens, mas não uma vida íntegra perante Deus. E, vivendo dessa forma, tendemos a nos “aproximar” daqueles que podem nos assegurar a obtenção e manutenção desse “status quo” e nos afastar de Deus, resultando numa “construção descuidada”.
Talvez fosse isso o que Paulo via nos irmãos de Corinto, ao se dividirem em “times”, com suas preferências e argumentos justificativos. Só Deus de fato conhecia o que ia no coração daqueles homens.
Mas o que será que Deus vê em meu coração? Ainda que eu possa “estar bem” diante dos homens, o que será que Deus vê em minhas intenções mais profundas? Que tipo de obra está sendo edificada sobre o alicerce, Jesus?
Paulo continua nos exortando que “no dia do juízo, o fogo revelará que tipo de obra cada construtor realizou” (v.13). Haveremos de ser provados pelo Senhor em relação a tudo o que tivermos feito, ainda que o tenhamos feito “em nome de Jesus”. E o quê restará?
A nossa responsabilidade é muito grande. O alicerce já está posto. Cabe a nós, como sábios construtores, buscarmos com diligência e responsabilidade edificar a casa, o templo santo para o Senhor (Ef. 2:20,21). E o grande encorajamento que podemos ter sempre é que “quem dá o crescimento é Deus”(v.7).
Lembre-se: ainda estamos em obras!
